sábado, 24 de setembro de 2016

A pessoa com deficiência na minha história de vida: a maternidade

Sempre cresci ouvindo de familiares que Deus só dava filhos especiais para mães fortes. Tal crença me confortava, afinal eu não conhecia alguém menos forte que eu. Tanto em porte físico quanto em postura frente a dificuldades. Eu era tímida, chorona e fraca. Desmaiava até mesmo na hora de arrancar dentes. Sendo assim, eu nunca seria mãe de uma criança especial.

Os anos passaram, me formei, casei com o melhor marido do mundo e veio nossa primeira gravidez. Planejada, um filho muito desejado. Teste de farmácia feito, confirmação no laboratório. Não nos contínhamos com tamanha felicidade. Tínhamos que contar para todos familiares a novidade e assim o fizemos. Dias depois, réveillon de 2009, sangramento. Perdíamos nosso tão desejado bebê dias após ter contado a todos familiares e amigos. Foi um momento muito triste e difícil. A médica do pronto socorro para nos consolar disse-nos palavras muito carinhosas: "É normal, principalmente na primeira gestação, antes da 12ª semana, o aborto espontâneo. Mas não fiquem tristes, a natureza é sábia. Se o corpo expeliu é porque tinha alguma imperfeição". Era tudo que precisávamos ouvir naquele momento!

A obstetra, após o aborto, nos orientou a aguardar três meses para tentar engravidar novamente. E assim fizemos: três meses depois estávamos esperando nosso próximo bebê. Só que dessa vez pouparíamos familiares e amigos. Esperamos passar as tão temidas 12 primeiras semanas para contar a todos a novidade. Esta segunda gravidez correu super bem, apesar de um pequeno susto com o início de um descolamento de placenta e o fantasma da diabetes gestacional. Com 39 semanas de gestação, nasceu Larissa, nossa primogênita. Todos testes neo-natais normais. Uma garotinha linda muito saudável. Até os três meses chorava muito de cólica, mas nada que nos traumatizasse ao ponto de descartar uma segunda gravidez. Lalá era um bebê tranquilo, aos três meses já dormia a noite inteira.



Sempre planejamos ter no mínimo dois filhos e já pensávamos no próximo. Não queríamos que a diferença de idade entre eles fosse muito grande. Antes de a Larissa completar 1 ano já estávamos esperando nosso segundo bebê. Esta terceira gestação não foi fácil. Aos quatro meses constatamos que estava com o colo do útero curto. O risco de um parto prematuro era iminente e por isso foi necessário repouso absoluto. O medo de perder o bebê ou de que ele nascesse prematuro fez com que todas as recomendações médicas fossem seguidas. O pai, coitado, que estava de viagem no Japão teve que voltar às pressas. Conseguimos levar a gestação até a 39ª semana. Nasceu o Pedro, um ano e sete meses após a chegada da Larissa, um bebê lindo, grande e ruivo, por incrível que pareça. Era o bebê mais lindo da enfermaria, modéstia à parte. 

Os primeiros meses do Pedro foram como de qualquer bebê. Dormia e mamava bem, porém chorava muito. Acordava durante a noite com muita frequência. Qualquer barulhinho o despertava, até mesmo deitar na cama ao lado do berço o acordava. E quando isso acontecia ele chorava muito, só se acalmava no peito. Eu voltaria a trabalhar depois de cinco meses de licença maternidade e já estava preocupada com o fato de não conseguir dormir direito. Voltei a trabalhar e o Pedro ainda não dormia a noite toda, mas todos diziam para ter calma, afinal, os meninos "são mais devagar que as meninas", segundo os mais experientes. Pedro dormiria no mesmo quarto que a irmã, mas ficamos com receio de que ele a acordasse. Colocamos o berço do Pedro no escritório, já que até uma respiração mais forte o acordava. Somente após os 8 meses ele começou dormir melhor à noite. O tempo passava e ele crescia uma criança sorridente e feliz! Como era alegre! Tinha acessos de gargalhadas inesperados que conquistava a todos!

Surgiu, então uma outra preocupação: Pedro estava demorando demais para sentar e em sequência à engatinhar. A pediatra indicou fisioterapia, mas disse para não me "alarmar, pois os meninos tendem a ser mais devagar e cada criança tem seu ritmo". Após alguns meses de fisioterapia ele já sentava com firmeza e dava indícios de querer engatinhar. Após aproximadamente 8 meses de fisioterapia ele começava a tentar seus primeiros passinhos e a fisioterapeuta brincou "ele é só preguiçoso, já está quase andando". Ela deu alta para ele e ficamos aliviados.

Quando Pedro completou 1 ano e meio, mesmo sem andar com firmeza, o colocamos na escola, que por sinal era a mesma em que eu trabalhava. A irmã havia iniciado em janeiro aos dois anos, Pedro iniciaria também em janeiro do ano seguinte, com cerca de um ano e meio de idade. Avisamos a professora e a coordenação que ele era mais preguiçoso, que ainda andava sem estabilidade e não falava nenhuma palavra. Mais uma vez ouvimos a máxima: "não se preocupe, cada criança é de um jeito. Ele vai se desenvolver".

No final do ano nos chamaram para conversar na escola. Estavam preocupados com Pedro. Ele não se desenvolveu como os demais coleguinhas, gostava de brincar deitado no chão, não atendia quando chamavam seu nome e não interagia com os colegas. Indicaram que procurássemos especialistas para avaliarem o Pedro. Meu mundo caiu. Nós já sabíamos que ele era diferente, mas tapávamos o sol com a peneira: era muito melhor acreditar que ele era uma criança muito feliz e preguiçosa. Se de um lado para a Priscila-Mãe era difícil acreditar, para a Priscila-Professora tudo ficava claro. Naquele momento eu tinha duas escolhas: refutar tudo o que a escola me apontou ou enxugar as lágrimas e procurar ajudar meu filho de todas as maneiras possíveis. Escolhi a segunda opção.

Ah... E sobre o início do texto: Não, eu não era forte, Pedro me fez forte. Por ele sou forte, não é uma escolha. É meu dever. Deus me escolheu para ser forte. Ele me confiou cuidar de um de seus anjos: o meu anjo azul!